errado,

'Ele é errado', sussurram. Descalça, sinto o chão gelado que me arrefece por dentro. Dispo o vestido, o tal que me deixa os ombros a descoberto, acabando estes por receber sempre um beijo ou uma mordida tua carregada do mais puro desejo. Sabes, quando não estás presente ouço leves sussurros que me tentam fazer entender o quão errado és, tentam trazer-me para a realidade, explicar-me que eu e tu não fazemos qualquer sentido. Se to contasse tomar-me-ias por louca. Não sou. Até conscientemente sei que não passas de um doce devaneio. Mas quando estás comigo todos os murmúrios cessam e sinto um sol dentro de mim. Por muito frio que sejas, por muito vazios que estejam os teus olhos. Aqueces-me a alma. Não me amas. Mas és o mais perto da felicidade que consigo chegar. E isso chega-me. Sei perfeitamente que és livre e mau. Sim, mau. Porque és livre mas queres-me o mais presa a ti possível. E eu presa fico. Presa pelo coração, presa pelo corpo, presa pela alma. Atada a ti de todas as formas possíveis. Não me amas, eu sei, consigo lê-lo nos teus olhos distantes. Mas essa verdade soa tão falsa. Se não me amasses... Se não me amasses não me percorrerias com os olhos, acariciando o meu rosto durante noites sem fim, quando julgas que já estou a sonhar contigo. Ou talvez nada disto tenha acontecido, talvez seja mais um sonho. O que é real é que és errado e ainda assim eu não importo. Apenas porque tantas vezes encontras em mim mais do que um corpo, conversando comigo até esgotares a voz, quando nos deitamos lado a lado, já saciados. És errado e já não sei o que pensar de ti. Nunca te entendi. 'Ele é errado'. O tipo certo de errado.