história de amor,

E se ele vier? E quando eu o vir? As minhas pernas vão tremer, o meu coração vai acelerar, vou perder as palavras por instantes, vou fazer de conta que não o vi e tentar esconder todos os sentimentos que tenho dentro de mim, vou tentar ocultar o sorriso de felicidade estampado nos meus lábios e o brilho de alegria evidente nos meus olhos. Vou cumprimentá-lo com dois beijos e um Olá coberto com um sorriso tímido e desatento, não vou olhar para ele, vou virar a cara sempre que ele estiver ao meu lado. Não lhe vou tocar, e vou tentar não estar muito tempo com ele. Vou? Vou.
Mas e se ele amanhã voltar? Já não vou ser capaz de esconder o sentimento que, por sua vez, não vai parar de crescer. Não vou conseguir esconder a alegria nem o brilho nos olhos - aquele de quando se está apaixonada. Vou querer dar-lhe a mão. Todos vão perceber e começar a disparar perguntas. Quem é ele? Onde é que o conheceste? O que é que sentes? E eu não vou ser capaz de responder sem antes esboçar um sorriso tímido e corar tremendamente. Foi amor à primeira vista, tentarei explicar, ou melhor, à primeira mensagem. Vocês vão querer conhecê-lo para tentar entender se é o rapaz indicado, se poderá ou não ser o tal. É um doce de rapaz, dirão por fim, após profunda e delicada análise de todas as virtudes e defeitos. Até lhe vão dar uma alcunha, está-se mesmo a ver. Então vou-me poder deitar na relva abraçada a ele, sentindo o calor do Sol e a felicidade em mim. Parece que finalmente vou ter a minha porção de conto-de-fadas. Sim, acho que vou viver feliz para sempre com ele. Vou? Vou.



( este é para a Jénn e o seu garoto xP )

real,

Sozinha não estou. Sinto-me é só, verdade seja dita. Talvez deva meter um anúncio no jornal. Vende-se coração semi-novo, cerca de 6635530000 batidas gastas, bom preço. Vamos reinventar o amor? Reescrever as grandes histórias? Quero muito. Mas sozinha não consigo. Chega de príncipes. Chega de sapatos. Chega de sapos. Um pouco de realidade, por favor. Bem, tu eras real. Aliás, eras realmente o meu Mundo, eras aquilo que tinha de melhor e... Merda, está tudo no pretérito perfeito. Sabes o que isso significa? Talvez, mas entretanto o sol estava a perguntar-se se deveria afastar-se por um dia até o sentimento ir embora. Qual sentimento? Não há sentimento nenhum. Não o amava, amava o que tínhamos sido, o que eramos, o que fomos. Passado, o passado já não muda. O agora é uma dádiva, é por isso que lhe chamam presente. E o futuro, esse é tão incerto. Mete medo. Medo? Medo é gostar muito de ti e ter medo te perder.

palavras soltas,

Para sempre e mais um dia. Estou a tentar ser forte mas às vezes é difícil. Alguém que saiu e não tornou a entrar. À noite o silêncio dói. A felicidade era mais que um sonho. Não percebo nada da vida. Não tenho certezas de nada. Sentido não faz. A arte de ser criança, naquele tempo tudo acontecia pela primeira vez. Ainda te lembras? Foi bom acordar e ver-te. Mas para onde vão os dias? E o tempo, também morre? A que é que sabem as cores? Dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo. Luta-se por tudo. A maior aventura de sempre: nós. Mas quando consegues o que queres, será que ainda queres o que conseguiste? Nunca mais digas que me amas. No fim pensamos sempre no início. Se ainda és aquele que eu conheço. Só existias tu. Apenas a verdade. Apenas uma noite. As cores do arco-íris. Apagam-se dúvidas, é simples. É mesmo o fim. De uma escolha faz-se um desafio. Enfrenta-se a vida. Coragem, nasce um novo dia. Desistir é batota. E tu, acreditas? Não.

Então estala, coração de vidro pintado.

amanhã talvez,

Posso fechar o meu coração? Não deve ser assim tão difícil. Uma vez li um livro em que a personagem principal o tinha feito. Um amigo seu, que era um génio, concedeu-lhe um desejo. Ela pediu-lhe que lhe levasse o coração, o guardasse dentro de uma concha e o escondesse no fundo do mar. O génio assim fez e ela viveu assim durante muitos anos até que, inevitavelmente, como seria de esperar num conto destes, voltou a precisar dele e com meia dúzia de peripécias recuperou-o. Eu também gostava que um génio me levasse o coração e o escondesse. Ah, e até dava menos trabalho que a tal personagem, não o ia querer de volta, não ia precisar mais dele, sei bem que a minha vida não é um conto de fadas. Poder crescer sem coração, quanta facilidade. Não sofrer com as mudanças, as despedidas, os altos e os baixos. Não sofrer com os fins. Detesto fins. Detesto sobretudo quando horas e horas de conversa diárias se tornam em meia dúzia de minutos quando calha. E ainda mais quando o silêncio decide ocupar essa meia dúzia de minutos. Oh, e odeio o facto de hoje ser suposto ter estado contigo mas, mais uma vez, tu não poderes. E, acredita, odeio ainda mais, odeio muito mais quando vejo a nossa amizade dentro de uma bolha de sabão, tão bela e tão incrivelmente frágil, a subir em direcção ao sol e, de repente, a rebentar. A bolha rebenta, a nossa amizade jaz no chão. Realmente, detesto fins. A rapariga que perdeu o coração, era esse o nome do livro.