para a minha melhor amiga,

"Saudade ? Sabes o que é saudade ? Saudade é o que tenho sentido todos os dias desde que as aulas recomeçaram . Saudades daqueles momentos , saudades daquelas amizades , saudades daquela Turma . Ninguém tem culpa do que mudou ou do que perdemos . Pelo menos eu penso assim , são precisas mudanças e perdas para crescermos . É um preço a pagar para podermos deixar de ser quem somos , para podermos evoluir .
Mas dói , dói tanto . Tu não sabes como é estar rodeada de tanta gente , que sim , é mesmo muito especial para mim , mas sentir-me sozinha . Porque por muito especiais que sejam não são vocês . E quando me perguntam quem são os meus melhores amigos , quando os professores me perguntam quem são as pessoas mais importantes para mim , dá-me vontade de chorar . Porque (quase) todos estão ali sentados ao lado de quem é mais especial , de quem é mais importante . E eu estou ao pé de alguém especial mas que não é tão especial como vocês , que nem sequer estão ali .
É por isso que choro em casa e sorrio de dia . Porque de dia aproveito o pouco que me resta do muito que já tive , e de noite choro pelo que perdi e estou a perder . A minha vida , vocês são a minha vida . Tu sabes disso .
(...) Enfim , estou rodeada de pesssoas que amo e que me amam , mas continuo a sentir-me sozinha . Un desabafo , era isso que querias , não era ? Não digo o que sinto porque acho que já vos basta sentirem o que sentem , não quero que se preocupem também com o que eu sinto . Mas eu gosto de ser assim , ouvir-vos e ajudar-vos ajuda-me a ficar mais calma , sinto-me útil ao tentar fazer-vos felizes . Mesmo que para isso tenha de me esquecer de mim .
Pronto , o que queria dizer é isto , que te amo , que não te esqueço , que estás cá dentro ."



Encontrei isto enquanto arrumava umas gavetas digitais. Acabei por abrir uma série de gavetas inesperadas, sabes? Do meu coração. Há muito que não reflectia sobre isto, sobre esta Inês, sobre o que ela tinha e eu já não tenho. Antes de mais nada devo dizer: tenho saudades vossas. Custou-me muito atravessar esta fase, Papoila. Não sabes quão difícil foi quando me apercebi que vocês, aqueles de quem eu tanto gostava, já não me procuravam. Demorei muito tempo a perceber que se estávamos juntos era por iniciativa minha. Doeu. Nós eramos fantásticos juntos. Com o tempo habituei-me, tanto quanto possível. Aprendi a valorizar o que tinha, a minha nova turma, a minha nova família. Apesar das regulares desavenças acredito que consegui adaptar-me, consegui sentir-me bem com eles. Sobre estas artimanhas estranhas da vida nada sei. Não passo de uma rapariga de dezassete anos que nem sabe bem o que quer do futuro. Mas digo-te, ainda hoje magoa passar por alguns daqueles que faziam parte d'o Grupo, que prometeram nunca me esquecer, e não receber sequer um sorriso. Citando uma Inês de há três anos, vocês eram a minha vida. Agora vou tentando aproveitar os poucos momentos que me cedem, em jeito de saudade. Não fui feita para quebrar promessas, de facto nunca vos irei esquecer. Enfim , o motivo para tudo isto, para este desabafo, é simples. Eu sei que uma parte de ti está preocupada com o próximo ano. Universidade, vida nova. Tens medo de perder os teus amigos. Eu entendo. Mas fica descansada, querida, garanto-te que os mais próximos não perdes, do antigo Grupo nunca te vais separar. Não me tomes como exemplo, não penses na minha dor. Eu perdi-os, é certo, mas vocês passaram de adolescentes para adultos juntos e é aí que está a diferença. Acompanhaste a mudança, fizeste parte dela. Nunca os vais perder, prometo-te. Vão existir partes duras, vais acabar por perder outras pessoas, também elas especiais. Daqui a uns anos passarás por elas e talvez nem um sorriso. Mas tu és forte e podes contar sempre comigo. Não tenhas medo de crescer. Sem medo, Jean Bob. Eu sei que vais conseguir sobreviver a isto. Eu consegui. Apesar de nunca mais ter tido um beijo na testa.

Sempre teu. Sempre meu. Sempre nosso.
~ o Grupo yonks @
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( é nestas alturas que gostava de ser como o Peter Pan , mas a vida , essa malvada , não o permite )

Barcelona,

I'm not meant to live alone, turn this house into a home
When I climb the stairs and turn the key
Oh, please be there, still in love with me
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Não consigo escrever nada este ano. E o pouco que escrevo não me satisfaz. Geralmente acontece quando ando muito feliz e, verdade seja dita, já se deu o caso. Mas ultimamente, céus, ando tomada de tão negros sentimentos que gostava de os extrair para o papel, afastar-me deles. Não consigo. Vou rabiscando, vou desenhando, os Ornatos Violeta sempre me vão aliviando o coração, assim como a Blimunda e o seu Baltasar. Nada disto chega, gostava de te poder dizer tudo o que sinto e senti, o quanto me magoas e vais magoando, sabes? E nem vês, nem percebes, nem reparas. Se calhar não te importas. E então dizem-me 'Estou farto de te ver assim, só te andas a humilhar, ele não merece'. E eu sei que é assim, mas mesmo sabendo não dou um único passo que me leve para longe de ti. Não me mexo um centímetro. Fico quietinha, à espera. De ti.
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Tínhamos acabado de nos deliciar com um gelado. Quer dizer, eu tinha-me ocupado dessa tarefa, oferecendo-te a colher de vez em quando, que tu aceitavas distraído. Estavas absorto em pensamentos, fitando-me com um olhar misterioso que não consegui decifrar. Estranhei, conhecia cada pormenor teu, não havia como não saber o que te prendia a mente. Andava agora de mão dada contigo por Barcelona. Era um dos locais que mais queria visitar, desde que me lembrava que desejava esquadrinhar cada palmo daquela cidade. Íamos conversando sobre o que nos rodeava, comentando isto e aquilo, combinámos até voltar ali dali a uns tempos para comprar t-shirts do Hard Rock, até que me apertaste com mais força, puxando-me para um abraço e disseste
- É assim que vão ser os nossos fins-de-semana daqui a uns anos, numa grande cidade, os dois a passear de mãos dadas, juntos
e as ruas perderam todo e qualquer interesse. Passei a tarde inteira - a tal destinada a visitar um dos meus destinos de sonho - sentada num banco, a tua cabeça no meu colo, afagando-te o cabelo enquanto me agarravas com força a mão. Ficámos assim, tu de olhos fechados a sentir o sol, eu olhando-te com ternura - eras o meu final feliz. Barcelona nunca me tinha parecido tão bela.
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É, realmente foi o final perfeito para a nossa história. E para meu infortúnio tenho a certeza de que não vale sequer a pena procurar outro como tu. Tal não existe. E nunca me contentaria com uma felicidade alternativa , nunca seria o mesmo. Não há outro que me entenda como tu, com um simples olhar. Mas uma coisa também te garanto, não haverá outra como eu, que te entregue o coração desta maneira. Eu também era o teu final feliz, tu é que achaste que um final feliz simplesmente acontecia, quando é algo que temos de fazer acontecer.

(quem me dera que aceitasses que o que sou hoje é tudo o que alguma vez serei,
e que me conseguisses amar ainda assim)
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Estou tão farta destes sentimentalismos! Porque é que não posso ser outra qualquer?