Nunca foste muito certo. Costumava dizer que teria pena da mulher com quem te casasses, porque ou a amarias muito, ou ela não duraria dois dias nos teus braços. Mas que sei eu? Bem ou mal, continuo-me a aguentar ao teu lado. Por muito que te queira arrancar do coração não consigo. Teria de prescindir de tanta coisa. De ti, para começar. Mas sei que algum dia terá de acontecer. Não estamos destinados a ficar juntos. Nunca valeu a pena idealizar um futuro a dois, porque quase nem temos um presente. Também sei que nunca ninguém me aconchegará como tu. Nem todos podemos ter um Carlo, algumas de nós ficam presas nos Giorgios. E que pena que é. Por muito apaixonantes que sejam são incapazes de amar. Pelo menos o meu Giorgio não me sabe amar. Nem sei para que me preocupo, são tudo histórias de amor, e essas - como as cartas - são ridículas. Ridículas. Ridículas. E é ridículo sofrer por algo que mais tarde irei perceber nem se tratar de amor. Quem me dera a lucidez da distância. Se não estivesse tão embrenhada em ti talvez me conseguisse afastar. Desta forma só quando me trucidares por completo o meu pobre e sofrido coração é que te tirarei os direitos sobre ele.
Parece-me que ouço uma cama a ranger. Uma gaveta a abrir. O roçar de umas calças de ganga no chão. Um suspiro. Que estranho sonho, penso. Escuridão e pequenos sons. Ouço uma porta a abrir. Não estou a sonhar. Abro os olhos a tempo de ver o último olhar que lanças ao leito que decidiste abandonar. O teu rosto coberto de vergonha, tamanha foi a tua cobardia. As palavras não te saem e decido acabar com esse teu momento embaraçoso. Suspiro também eu, e sussuro, antes de tornar a fechar os olhos e me virar para o lado contrário da cama
- Não digas nada. Fecha a porta atrás de ti, quando saires.
( Bandido!)