Sempre
fui uma pessoa de dores, uma pessoa de sofrer. Nunca foi intencional, acho
apenas que me dava uma espécie de propósito, ainda que propósito não seja a
palavra mais adequada. You can get addicted to a certain kind of
sadness,
era mais ou menos isso. Habituei-me a ter de
esperar, fosse por um beijo antes de adormecer, por um abraço num dia frio ou
por um simples gosto de ti. Tinha de esperar sempre, era assim que estava
estipulado. O amor, ainda que algo muito abstrato, tinha um quê de rigor, quase como um
relógio, pelo menos para mim. E esse amor passava por esperar. Porque quando
vale mesmo a pena, não custa esperar, certo? Era assim, era assim o mundo de
uma outra Inês, uma outra Inês que se perdeu algures por aí. The girl who waited. Nem dei por ela a
ir, nem dei por esse pedaço a desaparecer. Um dia olhei pela janela e não fui
capaz de ver amor, não fui capaz de acreditar em finais felizes. Os finais felizes
eram uma utopia ridícula criada apenas para vender livros e filmes. Sim, um dia
olhei pela janela e não fui capaz de ver amor. O tal das borboletas
e dos corações a saltar batidas. Fez-me mais sentido que tudo tivesse um prazo
de validade. Ainda hoje é assim, ainda hoje acredito em fins e não em finais
felizes. Deixei de acreditar em muita coisa porque percebi que se não acreditares que
existe um chão, não te custa tanto quando ele desaparece debaixo dos teus pés.
Um dia vou apaixonar-me pela pessoa certa era o pacote de açúcar que estava na
parede do meu quarto e que, quando me despedi do número doze no largo das
letras, não quis levar comigo para o meu novo esconderijo. O amor já não estava
nos planos. É, a verdade é que o amor já não estava nos meus planos quando
setembro acabou, quando certo dia te conheci. E agora? Agora... Seja pelo beijo antes de
adormecer, pelo abraço quando está mais frio ou pelo gosto de ti de todos os
dias, a verdade é que a felicidade passa por ti, meu amor.