De noite há o escuro e no escuro é difícil encontrar o que faz bem ao coração. Às vezes no cansaço fecha-se um pouco os olhos e ao abri-los de novo já se perdeu alguém. Nunca se deve fechar janelas àqueles que nos aquecem por dentro. Mas os fins aproximam-se - devagar e em silêncio - passam o rio de histórias, atravessam as ruas que são tão nossas e corrompem aquilo que devia durar. Semeiam a saudade sem querer saber se dói muito ou pouco. Dói muito. Quando o ciclo dá uma volta completa só se vê o azul, molhado do sal das lágrimas que choramos copiosamente, por entre rodas e carroçarias, embalados pela despedida. Anos mais tarde estará tudo confinado a uma caixa que não deverá jamais ser aberta - recordar custa. Habituei-me a adormecer e a acordar contigo. Todos os dias. Sempre. Os dias atropelam-se na pressa de chegar ao tal ponto final, apesar de ninguém querer deixar a cidade a que passámos a chamar lar, casa. Por muito utópico que seja, a família de que nos falaram quando ainda acreditávamos em contos de fadas parece de novo possível. E eu não a quero deixar - a minha família. Espreitamos pelo buraco da fechadura e vemos o adeus. Não temos outra alternativa senão abrir a porta. E assim se foram os melhores anos das nossas vidas.
Habituei-me a adormecer e a acordar contigo, Coimbra. Todos os dias. Sempre.