Ela lançou-lhe os braços ao pescoço: e os seus lábios uniram-se num beijo profundo, infinito, quase imaterial pelo seu êxtase. Depois, descerrou lentamente as pálpebras, e disse-lhe, muito baixo:
- Adeus, deixa-me só, vai.
Ele tomou o chapéu, e saiu.
- Adeus, deixa-me só, vai.
Ele tomou o chapéu, e saiu.
Sento-me aqui nesta sala vazia e relembro. A caneta vai tentando, carregada de nostalgia, contar a nossa história ao papel. Sempre usei a escrita como catarse, mas só agora consegui encontrar a força necessária para falar de ti sem as lágrimas me turvarem a visão. As minhas coisas estão agora dentro de caixas. As tuas vão ficar para trás. Não consigo continuar a viver nesta casa. É demasiado tua, é demasiado nossa Ainda me é difícil entender porque partiste, abandonando todos os nossos sonhos. Mas como tu costumavas dizer, falha-se sempre na realidade aquela vida que se planeou com a imaginação. Eu acabei por me habituar ao sofrimento, até porque este faz parte da espécie humana, faz parte de cada singular pedaço de mim. Não irias gostar de sabê-lo, mas continuo a não acreditar no conceito de felicidade. Felizes podem ser, talvez, os besouros. Esse conceito é tão utópico, meu deus. E eu nunca gostei de utopias. Desculpa, mas não tenho palavras para ti, não há palavras que consigam conter esta saudade. Posso apenas dizer-te uma coisa simples: a tua ausência dói. E dói de tal maneira que já pensei juntar-me a ti apesar de saber que não o posso fazer. Ficarias possesso de raiva se eu desistisse desta minha existência maltrapilha, incompleta, desfeita. É claro que poderia fingir-me louca, poderia fingir julgar que podia voar, poderia atirar esta minha suposta existência – maltrapilha, incompleta, desfeita – de uma falésia. Não, não poderia. Jamais me perdoarias. Mas também tu me falhaste numa promessa. Disseste que estarias sempre ao meu lado. Não estás. Não sei onde estás. Não sei para onde foste. Não sei nada. Acho que o melhor é deixar estar calado o meu coração.
- Adeus, deixa-me só, vai.
Ele tomou o chapéu, e saiu.
Na manhã seguinte, morreu.
P.S. Este texto possuí excertos das obras: Os Maias (Eça de Queirós); Antes de Começar (Almada Negreiros); Aparição (Vergílio Ferreira) e Pedro, lembrando Inês (Nuno Júdice) assim como de um artigo da revista Única.
espectaculo,para não variar ^^
ResponderEliminarrapido, se ainda mandares hoje, de certeza que consegues publicar este texto na revista.
eu arranjo-te espaço ;)
Este texto está muitíssimo bom com todos estes excertos (: deu uma excelente compilação *
ResponderEliminarnão sei se acredito numa felicidade pura e eterna, acho que não, mas sem dúvida acredito em momentos felizes, acredito que momentos menos felizes fazem outros saberem melhor e sabendo-o sinto um conforto no coração bem comparavel a essa felicidade utópica de que falas. (:
um beijinho *
Adorei Inês? está fortissimo, tão forte, até me vieram lagrimas aos olhos..Parabéns por um fantastico exercicio de escrita
ResponderEliminarPs. Gosto do teu nome porque é igual ao meu ^^
ResponderEliminarE eu também concordo com o que disseste, mas se assim nao fosse, não teria conseguido ve-los nem tirar-lhes as fotos. Desde que eles estejam em segurança e bem tratados... =) *
Gostei muito. Está muito original e carregado de sentimento.
ResponderEliminarP.S. podes dizer-me como pões e o leitor de música aqui no blog? tentei pôr exactamente esse no meu e não consigo encontrar o link para incorporar.
beijinhos
Eu quero masé textos teus !
ResponderEliminarNão obstante , está uma compilação muito gira . Gosti garota :b
Gostei do teu texto. :)
ResponderEliminarApesar de achar que a felicidade não é uma utopia nem nada que se pareça.
*
Obrigado!
ResponderEliminarlindo texto. lindo blogue. desculpa a invasão, mas vou começar a seguir! :)
ResponderEliminarbeijinho
Tenho um desafio para ti no meu blog :)
ResponderEliminar*
adoro sempre os teus textos Inês, mesmo mesmo.
ResponderEliminar