Os raios de sol esgueiram-se por entre a persiana como quem diz "já é dia!". Cubro a cabeça com as mantas e os lençóis na esperança que a luz se vá embora. Mas o futuro bate-me à porta e pergunta-me o que vamos fazer amanhã. Meia a dormir, nem percebo bem ao que vem. "O que vamos fazer amanhã?", insistiu. Não sei, desculpa mas não sei. Nunca fui boa com decisões, nem sei bem como vim aqui parar. Alguma qualquer coisa cá dentro por acaso acordou e disse
- É por ali, vai.
E eu fui. Ninguém sabe... e isto porque uma vez alguém me explicou que se disser as coisas em voz alta elas se tornam mais reais. Não, mais reais não, mais verdadeiras. Deixa de ser possível voltar atrás. Há coisas que tenho de guardar para mim. Há eus que não posso mostrar. Às vezes é-me complicado viver comigo (e gostarias tu de mim da mesma forma se soubesses tudo o que escondo?). Ninguém sabe, mas não sei se fiz a escolha certa. Se calhar devia ter virado à esquerda e não à direita. Mas nos desenhos animados é sempre suposto virar à direita... Repito, não sei se fiz a escolha certa. Não sei se era este o curso. Na cidade acertei, na cidade sei que acertei. Coimbra para mim é azul de dia e laranja de noite. Todos aqueles que já viram Coimbra de noite sabem que é laranja, amarela, vermelha, toda uma palete de derivados de tons com um quê de dourado. É quente. E durante três anos aqueceu-me. Deixei de escrever porque deixei de estar sozinha. Raras são as exceções, só quando conduzo ou espero por ti à noite. Deixei de me escrever. Mas ainda há coisas que apertam cá dentro e me poluem os sonhos. Os amanhãs ainda me são complicados e fico confusa nas encruzilhadas. E hoje, ainda o sol mal tinha nascido, o futuro bateu-me à porta quando eu já nem de mim sabia. Ainda assim uma certeza, um "não te preocupes", essa qualquer coisa cá dentro vai acabar por acordar, eventualmente, a seu tempo. E aí sim, e aí
- É por ali, vai.
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