amanhã talvez,

Posso fechar o meu coração? Não deve ser assim tão difícil. Uma vez li um livro em que a personagem principal o tinha feito. Um amigo seu, que era um génio, concedeu-lhe um desejo. Ela pediu-lhe que lhe levasse o coração, o guardasse dentro de uma concha e o escondesse no fundo do mar. O génio assim fez e ela viveu assim durante muitos anos até que, inevitavelmente, como seria de esperar num conto destes, voltou a precisar dele e com meia dúzia de peripécias recuperou-o. Eu também gostava que um génio me levasse o coração e o escondesse. Ah, e até dava menos trabalho que a tal personagem, não o ia querer de volta, não ia precisar mais dele, sei bem que a minha vida não é um conto de fadas. Poder crescer sem coração, quanta facilidade. Não sofrer com as mudanças, as despedidas, os altos e os baixos. Não sofrer com os fins. Detesto fins. Detesto sobretudo quando horas e horas de conversa diárias se tornam em meia dúzia de minutos quando calha. E ainda mais quando o silêncio decide ocupar essa meia dúzia de minutos. Oh, e odeio o facto de hoje ser suposto ter estado contigo mas, mais uma vez, tu não poderes. E, acredita, odeio ainda mais, odeio muito mais quando vejo a nossa amizade dentro de uma bolha de sabão, tão bela e tão incrivelmente frágil, a subir em direcção ao sol e, de repente, a rebentar. A bolha rebenta, a nossa amizade jaz no chão. Realmente, detesto fins. A rapariga que perdeu o coração, era esse o nome do livro.

4 comentários:

  1. Às vezes dizem-me que pareço não ter coração, a dada altura, também penso que é mesmo o melhor.

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  2. Lindo Inês , mas triste :s
    Lembra-te do que me prometeste ...

    Nunca mudes miudaa , t'adoro x)

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  3. Eu já tinha lido o texto, apesar de só estar a deixar a minha opinião agora.
    Está profundo, apesar de estar triste. Ah, então se só escreves quando é tristeza que tens no coração é bom sinal quando estás muito tempo sem escrever :)
    beijinho :*

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