Não quero crescer nunca. Não quero ter de crescer nunca e deixar Coimbra. Mas a verdade é que, crescendo ou não, a minha Coimbra já me deixou, já se foi embora, já se afastou desta cidade dita dos estudantes. Já nada me é familiar, já nada me encanta. Os fados e as canções já não me tocam e a palavra de ordem é sempre a mesma - saudade. Que fazer quando me vejo em casa mas não está ninguém? Nem amigos, nem irmãos, nem família. A cidade é a mesma - sinto-o em mim - mas nunca mais os mesmo cheiros, os mesmos gestos, os mesmos sentimentos. A minha Coimbra foi embora e eu não soube ir com ela. Fiquei aqui, nesta cidade que não me conhece, que eu não conheço, que não me é nada. Que não me pode ser nada. Os meus já foram, partiram num qualquer comboio e eu não soube partir com eles. Fiquei aqui, nesta estação, sem coragem para ir, sem sítio para voltar. Não fui para lado nenhum mas não estou também em lado nenhum. Fiquei aqui, quieta, com medo de deixar aquilo que já não tenho. As malas foram feitas mas nunca encontraram nova casa, nunca sequer as voltei a abrir. Com medo olho para cima e só vejo o nome do apeadeiro de onde não fui capaz de sair - Coimbra (Saudade). Não quero crescer nunca. Mas acho que já é tarde demais. Coimbra partiu sem mim.