Coimbra que se foi,

Não quero crescer nunca. Não quero ter de crescer nunca e deixar Coimbra. Mas a verdade é que, crescendo ou não, a minha Coimbra já me deixou, já se foi embora, já se afastou desta cidade dita dos estudantes. Já nada me é familiar, já nada me encanta. Os fados e as canções já não me tocam e a palavra de ordem é sempre a mesma - saudade. Que fazer quando me vejo em casa mas não está ninguém? Nem amigos, nem irmãos, nem família. A cidade é a mesma - sinto-o em mim - mas nunca mais os mesmo cheiros, os mesmos gestos, os mesmos sentimentos. A minha Coimbra foi embora e eu não soube ir com ela. Fiquei aqui, nesta cidade que não me conhece, que eu não conheço, que não me é nada. Que não me pode ser nada. Os meus já foram, partiram num qualquer comboio e eu não soube partir com eles. Fiquei aqui, nesta estação, sem coragem para ir, sem sítio para voltar. Não fui para lado nenhum mas não estou também em lado nenhum. Fiquei aqui, quieta, com medo de deixar aquilo que já não tenho. As malas foram feitas mas nunca encontraram nova casa, nunca sequer as voltei a abrir. Com medo olho para cima e só vejo o nome do apeadeiro de onde não fui capaz de sair - Coimbra (Saudade). Não quero crescer nunca. Mas acho que já é tarde demais. Coimbra partiu sem mim.

1 comentário:

  1. Ó minha trenga.
    A palavra de ordem aqui também é saudade. Num impulso decidi fazer as malas, desviei o olhar um segundo para ver o que achavas, como sempre fazíamos, e quando voltei a olhar para elas estavam noutro sítio. A uma distância bem maior do que a possível de medir em metros ou em minutos.
    Tenho um papel aqui. Diz «Embora? Eu não me vou embora». Fiz questão de o pôr mesmo a beira da mesinha de cabeceira. Olho para ele todos os dias. Assim tenho-te aqui. :)
    Por isso sim, os gestos mudaram (a cor do edredon também). Mas os sentimentos não. Continuo a acordar e a pensar, por um segundo que te tenho a 2 minutos de mim.
    Coimbra conhece-te melhor do que ninguém. Que eu, até. E eu conheço muito de ti. Coimbra conheceu o melhor e o pior das duas. E eu espero que saiba apenas guardar o melhor.
    Parti num comboio qualquer. Sabes que sou pessoa de datas. Fiz questão de não saber quando te vi pela última vez. Assim é impossível contar os dias. Mas mesmo aqui, nesta cidade que não é dos estudantes, onde tudo é maior, pior, mais perigoso e mais assustador, eu tenho-te comigo. Trouxe-te num bolso da mala. Um grande. Prometi-te um grande. E à última da hora empurrei lá para dentro um palmier. Podia dar jeito.

    Não quero crescer nunca. A não ser que venhas comigo. Tu, palmiers e um edredon vermelho e eu sou feliz em qualquer lado. Mesmo uma no Porto e outra em Coimbra.

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